quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Absurdo e a Graça no meu Quintal

Nesse final de semana conheci de verdade e muito, muito de perto, o PODER do fogo... Bateu na porta dos meus dois lares – na da minha casa e na da UNIPAZ. 

Ouvi, impressionada, o som das chamas engolindo a mata num volume que me paralisou!

O primeiro sentimento foi o de medo... me dei conta, mais uma vez, da nossa finitude, do quão somos frágeis... e sentir isso com o filho no colo é de fazer parar o coração... 

Em seguida veio a tristeza... um pesar pela vida das flores, árvores e bichos... vi camundonguinhos pulando de medo, um batalhão de grilos refugiados na nossa garagem, muitos carcarás e gaviões rodando os ares à espera do churrasquinho.

Depois veio, de mansinho, um sentimento bom ao abrir a janela no dia seguinte e sentir o cheiro das cinzas no ar... um sentimento de renovação. 

Mas aí, fogo de novo!

Um sentimento de que as coisas não estão mais nos seus devidos lugares, de desorganização caótica... mais uma vez uma tristeza, desta vez acompanhada pela raiva.

Mas um novo dia sempre chega e, com ele, novos insights, novas possibilidades de compreensão. 

Fui até o fundo do terreno onde moramos, depois do cafezal - totalmente destruído pelas chamas. 

Chegando lá, me deparei com o MILAGRE da VIDA, mais uma vez encantando meu olhar, me lembrando de que nossa percepção, geralmente, é demasiadamente curta e superficial para compreender o Mistério que há por trás de tudo que acontece.

Chegando no fundo do quintal, no meio das cinzas, sete pés de mexerica, mais alguns de laranja e limão amarelo, transbordando em frutos. As cinzas banhavam seus pés, pois o fogo que ali passou queimou tudo, tudo, tudinho... menos elas! 

Elas, que estavam grávidas da vida dos próximos pezinhos de mexericas, segurando firmes suas cápsulas de sementes deliciosamente protegidas, não  queimaram! De tudo o que havia em volta, sobraram apenas cinzas... mas com elas foi diferente!

Numa fração de segundo, vi o absurdo e a graça no meu quintal!

Paralisei diante de tamanha beleza! Arrepiei me dando conta de que o fogo – esse sagrado fogo que aqui queimou – levou uma camada da vida para desvelar uma outra que estava, até então, encoberta. 

Encoberta e deslumbrante! Encoberta e enlouquecida para compartilhar sua beleza e abundância. Porque a BELEZA e a ABUNDÂNCIA existem para serem compartilhadas... se não o fossem, pra que existiriam?

Mais uma vez me dei conta dos meus julgamentos - aquilo que penso que sei quando estou na ilusão de que sou separada de tudo e tudo é separado entre si. 

O julgamento de que o fogo é somente destruidor. De que o fogo gera somente desolação, medo e dor.  

Por um momento me esqueci do seu poder transmutador, da sua função essencial de destruir tudo o que é velho e precisa morrer... para que o NOVO possa nascer, adubado pelas cinzas daquilo que passou. 

Esqueci porque é mais fácil honrar a FORÇA da Vida quando ela se manifesta de uma forma mais branda, contida, controlada e, por que não, agradável aos sentidos. De uma forma que não ponha nossas certezas e apegos em perigo iminente. Porque fomos criados numa cultura que cultua a busca pela permanência das coisas e por uma ordem inventada, muitas vezes em desarmonia com a ordem cósmica que abriga em si a ordem, mas também o caos. 

Nietsche já dizia que “é preciso ter o caos dentro de si para fazer nascer uma linda estrela bailarina”. Assino embaixo.

O meu mais novo mestre, o fogo, me lembrou que a morte faz parte da vida. Me fez recordar que a morte é uma transformação da vida. Transformação capaz de beneficiar tudo aquilo que fica, na forma de adubo para suas raízes - sejam elas raízes físicas, emocionais, espirituais. É necessário, porém, olhos físicos para ver e olhos sutis para sentir e intuir essa verdade.

O meu mestre fogo me fez recordar que a morte é uma iniciação. E que toda iniciação implica em sofrimento. E que cada sofrimento nos faz mais fortes quando somos capazes de lhes dar um sentido e, assim, atravessá-lo. E que todo sofrimento, visto do ponto de vista de dimensões mais sutis, é apenas mais uma ilusão.

O meu mestre fogo me fez recordar que uma morte é uma preparação para um renascimento...

Mais um dia, mais uma lição... Mais arrepios e encantamentos... 

E o que ficou foi a emoção, a gratidão e a vontade de compartilhar... a abundância, a beleza e a ALEGRIA de fazer parte de um mundo tão inesgotavelmente belo! 

 




Isabela Crema - 08/08/2011

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