quarta-feira, 16 de março de 2016



Quero férias de mim

Quero que uma brisa suave
leve para longe
e por um bom tempo
esse tanto de acreditar
esse profundo não conformar
que me faz passional
e por demais apaixonada
por aquilo que ainda estamos tão longe de alcançar...
Por aquilo que,
me parece,
tão poucos querem viver...

Quero descansar 
dessa sede louca de mudança
que me faz gritar
que me faz girar
girar e girar
até me perder....
até perder a vergonha
até perder o senso
até perder a graça
até perder o riso
até perder a calma
...a calma que já não tenho
e que me é tão cara...

Ando terrivelmente cansada
de sentir tanto
de me importar tanto
de mergulhar tanto.
Olho para os lados
e invejo 
quem, imagino, nada disso sente.

Mas, pergunto-me:
como perder o sonho? 
Como consentir na nostalgia
daquilo que ainda nem vivi?
Como consentir no banal
se à este mundo eu trouxe 
uma vida,
um amor,
uma promessa? 

Às vezes sinto -
e me parece tão real -
que carregar o fardo
dessa intensidade
é mais do que dou conta. 

Bom... 
Certamente é mais do que eu gostaria.

Mas, 
repito até eu mesma acreditar:
sendo meu,
tem que ser do meu tamanho. 
Tem que ser do meu tamanho.

16/03/2015

16/03/2015

terça-feira, 8 de março de 2016

8 de março



Homens.
Se querem verdadeiramente homenagear as mulheres neste dia,
não nos tragam flores. 
Ao invés disso, busquem no google
o motivo de o dia 8/03 ser o dia internacional das mulheres.
Não, não nos tragam flores.
Após ler a história das mulheres queimadas vivas dentro de uma fábrica
por se manifestarem contra as péssimas condições de trabalho às quais eram submetidas,
respirem fundo e fechem os olhos.
Se coloquem no lugar delas.
Imagine como se sentiria se alguma delas fosse a sua filha.
A sua mãe.
A sua irmã.
A sua companheira.
Se querem nos homenagear,
não nos tragam flores.
As flores morrem muito rápido e seu perfume não é forte o suficiente para manter viva na nossa memória as milhões de mulheres torturadas, mortas e queimadas nas fogueiras da inquisição... por serem belas... por serem inteligentes... por serem curandeiras... por ousarem pensar por si próprias... que ousaram quebrar o silêncio... por terem a capacidade sobrenatural de gerar e parir a vida - poder este capaz de fazer tremer os homens.
Não, não nos tragam flores.
Ao invés disso, reflitam sobre o fato de que, a cada minuto - isso mesmo, a cada MINUTO - uma mulher morre no nosso país, vítima de violência masculina.
Lembre-se que, só em 2012, mais de 50 mil de mulheres foram estupradas no nosso país.
Se dêem conta de que poderiam ser a sua filha, a sua irmã, a sua mãe.
E após imaginar tamanha dor, reflita sobre as suas atitudes, discursos, votos, piadas e posturas diante do feminino e como elas podem contribuir para esta realidade, de formas sutis ou não, mesmo que não seja você aquele que puxa o gatilho ou força o seu gozo na dor alheia.
Ao invés de dar-nos flores com um cartãozinho
que expressa o quanto somos importantes para as suas vidas,
por amor,
liguem a tv.
Liguem a tv e prestem bastante atenção em cada programa, anúncio e propaganda que associam o corpo feminino à bens de consumo. À coisas. À objetos. Objetos feitos para serem usados.
Faça isso e reflita sobre como essas mensagens moldam o imaginário de homens, mulheres e crianças sobre o que é ser mulher e qual é o seu valor.
Antes de vir nos felicitar pelo nosso dia, lembrem que, até hoje, as mulheres recebem cerca de 30% a menos que homens para desempenhar o mesmo trabalho. Se coloquem no nosso lugar.
Não, não. Não tragam essas flores.
Antes disso, vá até algum lugar bem movimentado da sua cidade.
Sente-se com calma em algum canto qualquer e apenas observe com atenção as mulheres tentando passar ilesas por um mar de assédio.
Uma multidão de assovios, babas, línguas, gestos e frases...
Procure escutar o que dizem os homens, que pensam nos elogiar... "gostosa"... "ô, lá em casa"... "vou te chupar todinha"... "ah, se eu te pego, ah, ah, se eu te pego"... e imagine o dia em que for a sua filha escutando cada uma dessas frases. Se dê conta do que vc sente ao imaginar tamanha invasão.
Na volta para casa, pare um pouco no meio da rua. Respire fundo e feche os olhos. Tente se lembrar de quando foi a última vez que você trocou de roupa antes de sair de casa por medo ou preguiça do assédio que você acaba de testemunhar. Tente também se lembrar de quando foi a última vez em que você, andando sozinho na rua, teve medo de ser estuprado.
Não, homens queridos.
Não queremos as suas flores.
Não queremos as suas felicitações.
Não que não gostemos das lindas flores e de palavras carinhosas.
É que eles, neste contexto, servem apenas para nos distrair do que importa ser feito, discutido e refletido neste dia.
Não, não queremos flores nem cartões.
Queremos vocês se dando conta da parcela de responsabilidade que carregam
em cada um destes aspectos da realidade, nas pequenas atitudes, falas ou posturas que reproduzem as ideias que vivem por trás destas e tantas outras violências.
Queremos vocês refletindo sobre o privilégio que carregam nesta sociedade
pelo simples fato de serem homens.
Queremos que vocês procurem calçar os nossos sapatos antes de cada piadinha machista, antes de cada contratação de funcionários para a sua empresa, antes de expressar cada palavra que, na sua cabeça, se trata de um elogio para uma mulher passando na rua, antes de cada propaganda que estiver criando para a empresa para a qual trabalha, resistindo a tentação de ser rebanho, de ser normose, de ser deste time de gente careta e gananciosa que sustenta essas tradições que matam as mulheres aos poucos por dentro ou literalmente por dentro e por fora.
Não, homens. Não queremos as suas flores nem os seus bilhetinhos.
Queremos vocês ao nosso lado,
lutando pelo mundo
no qual vocês desejam que as suas filhas, as suas companheiras, as suas irmãs, as suas melhores amigas vivam.
Queremos vocês ao nosso lado,
lutando por um mundo no qual honramos e celebramos as nossas diferenças
mesmo sabendo-nos IGUAIS, plenamente IGUAIS em direitos.
E aí poderemos, enfim, plantar juntos essas flores, enquanto desabrochamos as nossas belezas e somamos as nossas potencialidades e conquistas sem nos considerarmos mais ou menos que o outro.
Diferentes, porém iguais.
Simples assim.
Belo assim.
Isabela Crema 08.03.2015