quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Louca?!




Ok já entendi. 

Sou louca porque não acho normal passar horas de cada um dos meus dias dentro de um carro, entre deslocamento e engarrafamentos. 

Sou louca porque não desejo um emprego que me gere a necessidade absoluta de férias pois, do contrário, haverá sério risco de pifar meu equipamento interno, e por não apenas querer levar meu filho para a escola à pé, mas ter nisso uma das minhas prioridades.

Sou louca porque quero ter tempo para plantar no meu jardim e porque não quero que a minha vida gire em torno do meu trabalho, mas que o meu trabalho gire em torno da minha vida. 


Sou louca porque gasto cerca de duas horas para fazer compras para tentar garantir que não darei dinheiro para os grandes que testam em animais, usam mão de obra escrava, envenenam as pessoas e a terra com seus químicos e torturam animais em nome da produtividade.


Sou louca porque prefiro, ao sair de casa, dar de cara com um rio passando ou o com o cheiro do mar ou com uma estradinha de terra, do que com um pedaço de asfalto, carros e outros sinais da vida moderna. 


Sou louca porque prefiro mil vezes mais ter uma pracinha onde encontrar os amigos à ter shoppings para passear no fim de semana. 


E mesmo gostando muito de cinema, sou louca porque prefiro mil vezes mais morar em um lugar onde, no fim da tarde de qualquer dia da semana, as pessoas se encontrem, fogueiras sejam acesas e violas tocadas. Onde a atividade matinal possa ser nadar num rio ou surfar no mar ou caminhar na mata ou qualquer outra coisa que não seja ir para uma academia suar em conjunto puxando ferro ou correndo em esteiras rolantes. 


Sou louca porque quero, um dia, conseguir produzir grande parte da minha própria comida, vestimenta e produtos de limpeza e higiene (sim, é possível!).

Sou louca porque acredito que a vida foi feita para se desfrutar a cada momento e não apenas nos fins de semana, férias e feriados e que todo dia pode ser dia de encontrar pessoas amadas, de costurar uma colcha, de tocar uma viola, de uivar para a lua, de mergulhar em alguma água, de bordar uma saia, de fotografar os pássaros e que isso tudo não me impede de ser uma pessoa produtiva, profissional, trabalhadora. 


Sou louca por saber que desejar e sonhar isso tudo não faz de mim uma hippie adolescente e também por saber que esse é o estereótipo muitas vezes dado às pessoas que tiveram a coragem de seguir os seus sonhos por aquelas que, confinadas em seu belo e polido quadrado "bem na fita", se mordem de inveja por dentro. 


Sou louca simplesmente porque, hoje, eu não aceito mais passar por cima dos meus sonhos e desejos para sair bem na foto, para agradar os outros nem para evitar conflitos.

Mas sou louca principalmente porque a mim foram dadas todas as oportunidades para ser uma madame, para ostentar, acumular, manter um padrão dito classe A, comer caviar em mesas requintadas com pessoas "poderosas" carregando uma bolsinha Victor Hugo e, no entanto, tudo o que mais quero é viver uma vida SIMPLES.

Simples assim.

Me desfazer do peso de tantas coisas acumuladas, de tantas máscaras sustentadas, de tantos compromissos engarrafados... mas, principalmente, me despedir da agradadora em mim - essa que tem por costume vender a minha alma em troca de sorrisos, aprovação, admiração...

E se isso tudo for realmente uma loucura, então realmente louca sou. Pois prefiro mil vezes ser uma louca feliz a ser uma bem-adaptada pessoa normal.

Posso até ser louca, mas não iludida. Pois sei, de dentro pra fora que, por mais que me queiram fazer acreditar que esta é a única forma de se viver, eu sei que neste mundão de meu Deus existem infinitas de se viver.
E, louca ou não, eu encontrarei a minha.
Essa é a promessa que agora faço à minha própria alma.

23/10/2013

Legenda da foto "Algumas vezes a coisa mais difícil e a coisa mais correta a se fazer são a mesma coisa"

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

...abismo...




... e contemplando o mar, de súbito, compreendi...

... de onde vim e para onde vou

nessa estrada que escolhi.


Venho do fácil e confortável.

Venho do cômodo, estética e detalhadamente planejado.

Venho do conto de fadas onde sapos não viram príncipes

pois lá, nesse lugar cor-de-rosa bebê, eles nem sequer existem. 

Venho do país do sorriso incessante,

esculpido em carne para aos outros agradar

sempre,

sempre.

Onde a liberdade é um sonho lindo 

vivido por seres incríveis 

aos quais devoto uma admiração quase apaixonada...

Onde a liberdade é desejada como um amor platônico -

um amor possível apenas à pássaros de outras bandas.

...

Meu destino é simples.

Simples e profundo. 

Caminho firme em direção à uma estrada de chão barrento.

Vou descalça

para que o barro me penetre os dedos...

para que, das plantas dos meus pés, se criem raízes.

Vou descalça nessa estrada

cujo fim é um abismo...

Um lindo abismo

de onde posso ver as mais lindas paisagens...

...as mais belas cores....

O oásis onde os animais mais inusitados, 

habitantes de minh´alma, 

vêm beber o ar do desconhecido, 

cantar o canto que ainda não nasceu

e dançar sob a luz da lua cheia. 

Esse abismo

que é absolutamente meu.

Intransferivelmente meu.

Feito sob medida

para por à prova o meu apego

à gaiola dourada dentro da qual me empoleirei.


E, parada diante dele, 

com olhos mareados 

de emoção e de dor,

com as raízes me cortando os pés 

e se agarrando à terra úmida e fértil 

do novo que se anuncia,

sinto brotar das minhas costas, 

dolorida e deliciosamente,

as tão sonhadas asas.

Embriagada de emoção e de amor,

de vazio e de dor,

me pergunto...

Saberei com elas voar?

E o vazio responde,

Soprando de mansinho no meu ouvido,

Sussurrando no meu coração:

Somente saberás

Se pular...

...(silêncio)...

...fecho os olhos...

...respiro profundo...

...e grito...

SIM!

...(silêncio)...

E o preço a se pagar pelo sim

gritado de dentro da alma?

A morte. 

A bela morte invernal 

que é sempre sucedida pela primavera...



Isabela Crema 16/10/13