sábado, 29 de dezembro de 2012

Oração do dia



Chega...
Chega dessas correntes...
Chega das grades com as quais me vesti!

Cansei de ser marionete de decisões e planos inconscientes, brotados da dor da minha criança.
Cansei de consentir com o desejo alheio, fazer o que quer que seja para deixar outrem satisfeito
E, assim, renunciar aos meus próprios desejos e sonhos profundos...
Cansei de brincar de João bobo com o meu coração.

Basta desta necessidade de aprovação alheia...
Basta de mendigar amor...
Basta de confundir esse amor falso, mendigável, com o verdadeiro Amor.
Pois o que é verdadeiro vem de graça, vem da graça: não se vende, não se negocia, menos ainda se mendiga.

Chega de trair a mim mesma para agradar aos outros...
Chega de vender a minha liberdade por alguns trocados de estabilidade...
Chega de confundir estabilidade com paz ...
Chega de sufocar meu grito para não ser inconveniente...
Chega de assassinar a minha criatividade para ver-me incluída no grupo que convencionou-se chamar de “pessoas bem sucedidas”.

Porque estou cheia das minhas próprias mentiras...
Cansada do medo que inunda meu ser, e que me cega e me maltrata...
E perdida nos labirintos internos, espiralando vou...

Anseio mais que tudo amar-me a mim mesma...
Aceitar-me a mim mesma assim, como hoje sou...
Acolher minhas próprias dores e transformá-las num trampolim para o novo...

O novo... que traz consigo a promessa da liberdade a mim destinada...

Anseio mais que tudo, que minha auto-aceitação seja, para mim, o suficiente...
 para que eu abandone de vez esta estrada tão gasta quanto percorrida, abrindo caminho para a busca da trilha de mata virgem que sou destinada a desbravar.

Porque queima dentro de mim um fogo ardente
Ao imaginar-me a mim mesma
Correndo à beira-mar...
Cabelos soltos e pés descalços...
Despida de todos os medos que me podam as asas,
Rumo à lua cheia!
Com a alma nua e o coração em flor...
Pois quero ser andorinha a voar, desbravando nuvens, saboreando o vento, cantando a beleza da vida, planando sob o sol... 
Feliz por simplesmente ser e aqui estar.

Desejo, mais que tudo, ter o amor verdadeiro fluindo livre e abundante pelo meu coração...
Amor pela vida e tudo que nela respira...
Amor este que só é capaz de parir-se através do verdadeiro amor próprio...
...Amor próprio que hei de conquistar!

E entrego ao vento, ao mar e à lua cheia o meu desejo de que eu saiba ser de mim mesma a melhor amiga e companheira...
 Que eu aprenda a cuidar e velar pelo meu próprio coração...
 Que eu encontre dentro de mim mesma a paz de simplesmente ser o que sou...
E assim, viver plena de contentamento, simplesmente feliz, enraizada no presente do aqui e agora...
Para, assim, poder transpare-Ser...
Para, assim, poder irradiar o verdadeiro amor e cuidado para fora de mim mesma
E poder ser mais um raio de sol a iluminar a escuridão.

Esta é, hoje, a minha oração.

Que assim seja.
E assim será.

28/12/12

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ladrão de Máscaras



Sempre Khalil Gibran...

"Um dia, muito antes de muitos deuses terem nascido,
 despertei de um sono profundo e notei 
que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas
 – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – 
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, 
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: 
“É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. 
E então o sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
 e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, 
e não desejei mais minhas máscaras. 
E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos 
os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim tornei-me louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança 
em minha loucura: a liberdade da solidão 
e a segurança de não ser compreendido,
 pois aquele que nos compreende 
escraviza alguma coisa em nós".

Gibran Khalil Gibran


...Reticências...




Cansei!
Cansei de ser triste...
De ser vítima...
De ser injustiçada.

Cansei de ser a dona da verdade...
De dar conta de tudo... 
Ou melhor: de achar que dou conta de tudo.

Cansei de ser melhor que os outros...
Cansei de ser pior que os outros...

Cansei da vaidade que me habita
Que me consome por dentro e aprisiona a minha verdadeira beleza...
Que aduba a minha inveja e me ilude dizendo que o inimigo está lá fora...
Que me afasta da humildade e faz da arrogância uma morada segura.

Cansei de ser o que esperam que eu seja...
E também de tentar ser o que, um dia, acreditei  e decidi que eu deveria ser para me sentir amada.

Cansei de confundir amor com co-dependência...
De precisar agradar à tudo e à todos, desesperadamente
E, assim, passar os dias a mendigar migalhas de um pseudo-amor que aprisiona o meu viver.

Cansei de jogar tantos jogos...
De inflar o peito para esconder a minha insegurança...
De sorrir quando quero chorar...
De vender minha alma em troca de um sorriso...
De trair a mim mesma em troca da aprovação alheia...

Cansei de frustrar-me com minha pequenez...
Cansei de sonhar com essa grandeza, tão idealizada quanto mentirosa, de ser perfeita, de ser "ideal".

Ideal para quê?
Ideal para quem?

Como diria Lenine, "eu quero mais erosão... menos granito".

Quero agora a liberdade de ser simplesmente eu!
De conquistar a paz do contentamento...
De ser assim, do meu tamanho...
Com os meus amores...
Com as minhas dores...
Com a minha sombra...
E com a minha luz.

Quero fazer as pazes com a minha humanidade
e, por fazê-lo, poder enfim respirar fundo, aliviada...

Quero, verdadeiramente, agradecer por ser o que sou, aqui e agora...

E também agradecer por tudo o que já fui.
Por todos os caminhos percorridos...
Por todos os tropeços...
Por todos os buracos em que caí por descuido, por necessidade ou por inconsciente vontade. 

Quero viver o perdão verdadeiro.
Aquele que brota da consciência plena de que sou a única responsável pelos absurdos e pelas graças que vivo...
E que me liberta das correntes que me aprisionam no rancor, envenenam minha alma e apagam o meu brilho real.

Quero ser grata por todas as dores sentidas
Para, assim, poder transmutá-las em flor.

Quero ser grata por todas as bençãos recebidas
E, assim, desfrutar verdadeira e plenamente de toda a beleza desta vida.

Quero, enfim, aprender a me amar.
Aprender a acolher-me a mim mesma, profundamente...
Para, assim, poder acolher verdadeiramente ao outro
E, enfim, ter a com-fiança para entregar o meu coração e colocá-lo a serviço do Amor.

Quero sentir na pele, nos ossos e no coração a Unidade que sei ser verdadeira
Para, assim, ter a coragem de tornar-me a gota d'água que se entrega ao oceano e que, por fazê-lo, nele se transforma...

Quero lançar-me ao precipício e, repentinamente, lembrar-me de que, SIM!
Eu tenho asas! Eu sei voar!

Quero ter a coragem de assumir e amar tudo aquilo que sou...
De acolher a minha dor
E olhar-me com olhos de doçura e compaixão...
E, assim, poder apenas ser.
E, assim, permitir que o outro apenas seja.

Só isso.

Só.

Aqui e agora.

Mas sem ponto: reticências...


Isabela Crema, 10/12/2012