quinta-feira, 8 de março de 2012

Elogio à menstruação



Menstruo porque sou mulher... porque desde que ajuntamos pó de estrelas suficientes para formar nosso corpo, a cada mês, o meu corpo, o meu TEMPLO, o fruto da engenharia perfeita da natureza, se prepara para proteger e nutrir a VIDA. E, se uma vida não é formada, despejo meu sagrado sangue para fertilizar a terra: um gesto de pura gratidão do meu Ser à Grande Mãe que nos nutre incondicionalmente.

Tenho TPM porque vivo numa sociedade que peleja pela falta de conexão, patriarcal e machista que teme tudo aquilo que não entende e, portanto, quer eliminar tudo aquilo que ameaça a sua ilusão de estabilidade, de permanência. Tenho TPM porque a pausa é parte fundamental de uma vida saudável, plena, feliz... Tenho TPM porque vivo num mundo que foi orientado a não respeitar as pausas, as nossas necessidades individuais. Nem as minhas, nem as de ninguém. 

Tenho TPM porque fui criada como um Ser sensível às vibrações de todos os níveis de realidade, não somente os mais visíveis, e tenho dentro de mim a sabedoria de ser um cana de comunicação entre eles. No entanto, vivo num mundo onde o Deus Chronos, com seus moldes, fôrmas, estruturas pré-definidas e tic-tacs devoradores da vida, persegue e crucifixa o Deus Kairós - padroeiro da criatividade, da espontaneidade, da liberdade...

Menstruo porque a natureza foi generosa para comigo e minhas irmãs - incrustou em mim a sabedoria da nossa avó Lua: a de saber esvasiar-se para, então, tornar-me plena novamente. Menstruo pois a LUA DENTRO DE MIM conhece os ciclos da VIDA e sabe, mesmo que bem lá no fundo, que é necessário saber MORRER para poder RENASCER, limpa de tudo aquilo que é velho, estagnado e não nos serve mais. Limpa de tudo aquilo que nos segura e aprisiona nossa liberdade de simplesmente Ser.

AMO menstruar - mesmo com minhas cólicas, seios inchados e outras formas que meu corpo encontra para me dizer: PARE, olhe para dentro - este momento é SEU (e não do seu chefe!) - pois tenho a coragem de experimentar a VIDA com tudo o que ela tem: com suas dores. e seus Amores... seus prazeres e desprazeres... seus absurdos e suas graças... e, a cada mês, recebo uma sublime lição sobre a IMPERMANÊNCIA de tudo o que existe. Não sou hoje a que fui ontem... nem serei amanhã a que hoje sou.

Fui criada para saborear brisas e tempestades e a VIDA dentro de mim PULSA pelo MOVIMENTO. 
Menstruar é movimentar, pura e simplesmente.

AMO menstruar pois acho pura POESIA viver as fases da lua dentro de mim... e as minhas fases me ensinam que é preciso humildade para compreender o SENTIDO de tudo aquilo que acontece.
A vida não evoluiu por milhões de anos para criar um ser que adoece a cada mês (como querem nos fazer acreditar alguns homens de jaleco branco): mais HUMILDADE, senhora medicina, fiel súdita da indústria farmacêutica e suas neuroses. Tens apenas poucas centenas de anos e tu simplesmente não existirias senão fosse a GENEROSIDADE da mesma natureza que nos criou assim como somos. Mais cuidados, senhores médicos: não se pode falar com propriedade daquilo que não se experimentou com seu próprio corpo, suas próprias emoções ou, pelo menos, a partir da sua capacidade de EMPATIA. 

Saúde, j;a dizia meu pai, é saber DANÇAR COM AS ESTAÇÕES. E as estações de fora são as mesmas de dentro.

MULHERES, temos a BENÇÃO de ter um corpo que flui com a VIDA à cada mês, não importa o quão desconectadas estejamos da HARMONIA do mundo natural em que habitamos. Deixaremos mais uma vez nos CALAR A VIDA que pulsa dentro de nós? Entregando nossos corpos, nossos TEMPLOS, para seres sem rostos e sorrisos em salas frias e ESTÉREIS para nos forçarem a nos adequar à um sistema que encontra-se profundamente doente?

E, no final, descobriremos que a questão não é menstruar ou não... não é descobrir se quem pari é a dupla mãe-bebê ou o médico... é se dar conta de que a inquisição ainda não terminou - apenas transformou sua forma de fazer calar o FEMININO em nós - uma forma cada vez mais sutil e, portanto, cada vez mais eficaz.

Isabela Crema - 05/07/2011 (Reflexões sobre o movimento "viva sem menstruar") 


2 comentários:

  1. Menstrualmente falando (rs), estou emocionadíssima com seu texto! Parabéns por relembrar-nos desta sacralidade. ;)

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