quarta-feira, 16 de outubro de 2013

...abismo...




... e contemplando o mar, de súbito, compreendi...

... de onde vim e para onde vou

nessa estrada que escolhi.


Venho do fácil e confortável.

Venho do cômodo, estética e detalhadamente planejado.

Venho do conto de fadas onde sapos não viram príncipes

pois lá, nesse lugar cor-de-rosa bebê, eles nem sequer existem. 

Venho do país do sorriso incessante,

esculpido em carne para aos outros agradar

sempre,

sempre.

Onde a liberdade é um sonho lindo 

vivido por seres incríveis 

aos quais devoto uma admiração quase apaixonada...

Onde a liberdade é desejada como um amor platônico -

um amor possível apenas à pássaros de outras bandas.

...

Meu destino é simples.

Simples e profundo. 

Caminho firme em direção à uma estrada de chão barrento.

Vou descalça

para que o barro me penetre os dedos...

para que, das plantas dos meus pés, se criem raízes.

Vou descalça nessa estrada

cujo fim é um abismo...

Um lindo abismo

de onde posso ver as mais lindas paisagens...

...as mais belas cores....

O oásis onde os animais mais inusitados, 

habitantes de minh´alma, 

vêm beber o ar do desconhecido, 

cantar o canto que ainda não nasceu

e dançar sob a luz da lua cheia. 

Esse abismo

que é absolutamente meu.

Intransferivelmente meu.

Feito sob medida

para por à prova o meu apego

à gaiola dourada dentro da qual me empoleirei.


E, parada diante dele, 

com olhos mareados 

de emoção e de dor,

com as raízes me cortando os pés 

e se agarrando à terra úmida e fértil 

do novo que se anuncia,

sinto brotar das minhas costas, 

dolorida e deliciosamente,

as tão sonhadas asas.

Embriagada de emoção e de amor,

de vazio e de dor,

me pergunto...

Saberei com elas voar?

E o vazio responde,

Soprando de mansinho no meu ouvido,

Sussurrando no meu coração:

Somente saberás

Se pular...

...(silêncio)...

...fecho os olhos...

...respiro profundo...

...e grito...

SIM!

...(silêncio)...

E o preço a se pagar pelo sim

gritado de dentro da alma?

A morte. 

A bela morte invernal 

que é sempre sucedida pela primavera...



Isabela Crema 16/10/13

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