quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia das Mulheres


Ontem, saindo de casa, saí do carro para abrir o portão. Ao lado do portão velho e quebrado, em meio ao mato mal-cortado, num lugar bem pouco cuidado do terreno, estava um lírio que acabara de florescer. Duas flores lindas, como sempre são os lírios, só que cor-de-rosa... Me en-cantei com a cena mas, atrasada para levar meu filho para a escola, desliguei minha função "coração transbordante" e liguei o automático. Matei Kairós que começava a me inundar de um calor criativo, amoroso e cor-de-rosa - assim como as flores - e dei as mãos à Chronos, o guia e mentor da minha falta de ar e falta de paz-ciência no trânsito. 

Mas o Universo não se cansa de nos mostrar o caminho do coração e, no dia seguinte - exatamente hoje - novamente, lá estavam elas... abertas, radiantes, perfumadas e cor-de-rosa. Dessa vez dispensei Chronos e fui, de mãos dadas com Kairós, dar um cheiro em tamanha beleza e delicadeza. Aceitei o presente do Mistério, fiz as pazes com o presente e fiquei alguns instantes me deliciando com o mistério da bela flor que nasceu num improvável chão, sentindo o pulmão livre para respirar o perfume doce do aqui e agora. 

Voltei ao carro e, ainda tomada pela beleza do instante que se passara, me dei conta de que hoje é o dia das mulheres. Dia que foi criado para honrar a força feminina amorosa, poderosa e absolutamente transformadora das mulheres que, no dia 8 de março de 1957, foram queimadas vivas na fábrica onde trabalhavam por a terem tomado em uma greve onde elas reivindicavam a redução de 16 horas de trabalho diário para 10. Elas recebiam menos de um terço do salário dos homens que desempenhavam a mesma função. 

Subitamente compreendi o sentido de tudo isso que vivenciei... Estas flores são como um espelho do feminino. Uma ode ao poder doce, à ternura enraizada, ao perfume que se entrega com total consciência da sua missão criadora e preservadora da VIDA que é a força do feminino bem integrado. Uma poesia feita em memória à todas as mulheres que se entregaram na luta pela liberdade.

Elas foram o presente do Amor para o meu dia das mulheres. Um lembrete de que, não importa em qual terreno, com quanto cuidado e em quais condições climáticas ou físicas nossa semente se plantou: temos, dentro do nosso coração, todo o potencial para desabrochar nosso Ser em flor. 

Uma irmã me lembrava à poucos minutos atrás: Amar é uma decisão. Eu completo: desabrochar nossa flor de Amor é uma decisão.  Um eterno movimento de orientar o coração na direção de se entregar ao presente, de simplesmente aceitar suas cores, aromas,  sol, chuvas ou tempestades com a humildade de quem sabe que pouco sabe do que jaz por trás dos véus que encobrem nossa verdadeira identidade. E confiar que o que tem de ser será. E o que foi, tinha de ter sido. Com-fiar. Fiar-com a vida, assumindo a autoria dos passos que damos... e também dos tropeços, quedas, rodopios e danças que damos. 

No final das contas, toda essa enxurrada de emoções se deu em poucos minutos. Novamente Chronos. Mas, no reino de Kairós, estes minutos se desdobraram em pura vida, alegria e o entendimento de que, o que realmente desejo para nós, mulheres e homens, é a sabedoria de saber transformar o lodo em flor, de transcender a prisão da auto-piedade estagnante para a liberdade de se saber co-criador da Vida... a cada acontecimento... a cada momento... a cada respira-ação. 

Pois, como já dizia o poeta, "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo". (Walter Franco)

Isabela Crema - 08/03/2012

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