segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

...Reticências...




Cansei!
Cansei de ser triste...
De ser vítima...
De ser injustiçada.

Cansei de ser a dona da verdade...
De dar conta de tudo... 
Ou melhor: de achar que dou conta de tudo.

Cansei de ser melhor que os outros...
Cansei de ser pior que os outros...

Cansei da vaidade que me habita
Que me consome por dentro e aprisiona a minha verdadeira beleza...
Que aduba a minha inveja e me ilude dizendo que o inimigo está lá fora...
Que me afasta da humildade e faz da arrogância uma morada segura.

Cansei de ser o que esperam que eu seja...
E também de tentar ser o que, um dia, acreditei  e decidi que eu deveria ser para me sentir amada.

Cansei de confundir amor com co-dependência...
De precisar agradar à tudo e à todos, desesperadamente
E, assim, passar os dias a mendigar migalhas de um pseudo-amor que aprisiona o meu viver.

Cansei de jogar tantos jogos...
De inflar o peito para esconder a minha insegurança...
De sorrir quando quero chorar...
De vender minha alma em troca de um sorriso...
De trair a mim mesma em troca da aprovação alheia...

Cansei de frustrar-me com minha pequenez...
Cansei de sonhar com essa grandeza, tão idealizada quanto mentirosa, de ser perfeita, de ser "ideal".

Ideal para quê?
Ideal para quem?

Como diria Lenine, "eu quero mais erosão... menos granito".

Quero agora a liberdade de ser simplesmente eu!
De conquistar a paz do contentamento...
De ser assim, do meu tamanho...
Com os meus amores...
Com as minhas dores...
Com a minha sombra...
E com a minha luz.

Quero fazer as pazes com a minha humanidade
e, por fazê-lo, poder enfim respirar fundo, aliviada...

Quero, verdadeiramente, agradecer por ser o que sou, aqui e agora...

E também agradecer por tudo o que já fui.
Por todos os caminhos percorridos...
Por todos os tropeços...
Por todos os buracos em que caí por descuido, por necessidade ou por inconsciente vontade. 

Quero viver o perdão verdadeiro.
Aquele que brota da consciência plena de que sou a única responsável pelos absurdos e pelas graças que vivo...
E que me liberta das correntes que me aprisionam no rancor, envenenam minha alma e apagam o meu brilho real.

Quero ser grata por todas as dores sentidas
Para, assim, poder transmutá-las em flor.

Quero ser grata por todas as bençãos recebidas
E, assim, desfrutar verdadeira e plenamente de toda a beleza desta vida.

Quero, enfim, aprender a me amar.
Aprender a acolher-me a mim mesma, profundamente...
Para, assim, poder acolher verdadeiramente ao outro
E, enfim, ter a com-fiança para entregar o meu coração e colocá-lo a serviço do Amor.

Quero sentir na pele, nos ossos e no coração a Unidade que sei ser verdadeira
Para, assim, ter a coragem de tornar-me a gota d'água que se entrega ao oceano e que, por fazê-lo, nele se transforma...

Quero lançar-me ao precipício e, repentinamente, lembrar-me de que, SIM!
Eu tenho asas! Eu sei voar!

Quero ter a coragem de assumir e amar tudo aquilo que sou...
De acolher a minha dor
E olhar-me com olhos de doçura e compaixão...
E, assim, poder apenas ser.
E, assim, permitir que o outro apenas seja.

Só isso.

Só.

Aqui e agora.

Mas sem ponto: reticências...


Isabela Crema, 10/12/2012

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