segunda-feira, 4 de março de 2013

Ser-Mulher


Ser-Mulher

Sou mulher e, como uma verdadeira representante da minha patota nestes tempos em que vivemos, ora sofro do complexo “dou conta de tudo, tudo, tudinho, agora mesmo!”, ora sofro do complexo “chega! Não quero mais nada! Faça você (quem quer que seja – de preferência um homem) todo esse tudo, tudo, tudinho”!

Vivo transitando entre os extremos super-mulher-toda-poderosa e a sobrecarregada-reclamona-meleca-de-nada.

É isso: fomos tanto tempo aprisionadas, caladas, amordaçadas, castradas, mandadas, que tivemos que lutar bravamente pela nossa liberdade... mas, coitadas de nós, fomos logo acreditar que liberdade é assumir todos os papéis de importância na sociedade (provedora, super-mãe, trabalhadora) sendo ainda linda, sexy, esbelta, gostosa, sempre funcionando no modo “pode vir quente que eu estou fervendo”.

No meio desse caminho-torto, descobrimos que as outras de nós eram também competidoras pelo tão sonhado troféu mulher-bem-sucedida-independente-rica-criativa-supermãe-linda-gostosa-sexy-e-ativa.

E, quando nos demos conta de quantas éramos, não hesitamos em concluir, no fundinho escuro de nós mesmas, de que era preciso competir! Era preciso ser mais e mais e mais para ser A MELHOR e ganhar o troféu do reconhecimento social e, quem sabe, de quebra, ser convidada para posar na playboy.
Já ouvi dizer que “assim caminha a humanidade”. Pois eu discordo. Eu digo que “assim caminhou a desumanidade”.
Quando ainda estava perdida no meio desse caminho-torto, lembro de sentir, lá no profundo (talvez do meu útero), um desejo enorme de pertencer à um grupo de amigas – coisa que nunca havia tido pois, sendo todas competidoras pelo mesmo prêmio, preferi sempre me refugiar junto aos homens.
Pois que a Vida, que é viva e acolhe os nossos desejos verdadeiros mais profundos, foi, aos poucos (e na medida em que eu despertava do pesadelo do caminho-torto), me presenteando com indivíduos desta espécie feminina, tão raras, tão lindas, tão belas, tão únicas, tão inspiradoras, tão brilhantes, que partes até então adormecidas do meu ser começaram a desabrochar por pura ressonância...

E, pouco a pouco, esse clã feminino (sim, é muito mais que um grupo, é um clã) foi acontecendo e, como é da nossa natureza feminina mais essencial, o acolhimento e a busca pela beleza verdadeira, ele permanece sempre aberto às novas cores e aromas e infinitudes humanas possíveis e impossíveis.

Então eu descobri...

Que a palavra AMIGA, segundo minha própria teoria de pensamentos cá com meus botões, foi construída desta forma, tão bem-pensadamente, pois carrega, na frente de TUDO, o AMor!

Que mulheres, para serem saudáveis, precisam umas das outras para deitar no colo e chorar de dor... e para cair no chão de tanto rir... rir, rir, rir... gargalhadas de bruxas felizes, poderosas, unidas e, portanto, sãs!

Que mulheres, quando se encontram verdadeiramente, desbloqueiam todos os entupimentos de alma com as ferramentas do riso, da alegria, do acolhimento, dos beijos e abraços mágicos e elevadores da alma!

Que, na matilha (matilha sim, pois também somos lobas!), a força do feminino-de-milhões-de-face autoriza que sejamos assim como somos, com todas as nossas belezas e todas as nossas pequenezas, sem nada excluir.

Que ter a permissão de ser tudo o que se é perante as outras é uma das coisas mais libertadoras e deliciosas que existe!  

Que ter alguém com quem gargalhar de si mesma, das suas próprias mazelas, e ainda assim sentir-se totalmente acolhida e confiante do respeito com o qual é tratada a sua própria dor, é algo impagável e indispensável à saúde feminina!

Que, na matilha, somos LINDAS por sermos do tamanho que somos – o tamanho do aqui e agora, não importando a numeração da calça, o tamanho do sutiã, o peso da balança ou a marcação na fita métrica...

Porque AMiga é mestra na arte de adivinhar risos e lágrimas e, principalmente, mestras na arte de extrair a flor da dor.

Porque AMiga derrete as ânsias e alimenta os anseios por uma vida plena de alegria, plena de humanidade e simplesmente feliz!

Isabela Crema 20/08/2012


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