Ser-Mulher
Sou mulher e, como uma
verdadeira representante da minha patota nestes tempos em que vivemos, ora
sofro do complexo “dou conta de tudo, tudo, tudinho, agora mesmo!”, ora sofro
do complexo “chega! Não quero mais nada! Faça você (quem quer que seja – de
preferência um homem) todo esse tudo, tudo, tudinho”!
Vivo transitando entre
os extremos super-mulher-toda-poderosa e a sobrecarregada-reclamona-meleca-de-nada.
É isso: fomos tanto
tempo aprisionadas, caladas, amordaçadas, castradas, mandadas, que tivemos que
lutar bravamente pela nossa liberdade... mas, coitadas de nós, fomos logo
acreditar que liberdade é assumir todos os papéis de importância na sociedade
(provedora, super-mãe, trabalhadora) sendo ainda linda, sexy, esbelta, gostosa,
sempre funcionando no modo “pode vir quente que eu estou fervendo”.
No meio desse caminho-torto,
descobrimos que as outras de nós eram também competidoras pelo tão sonhado
troféu mulher-bem-sucedida-independente-rica-criativa-supermãe-linda-gostosa-sexy-e-ativa.
E, quando nos demos
conta de quantas éramos, não hesitamos em concluir, no fundinho escuro de nós
mesmas, de que era preciso competir! Era preciso ser mais e mais e mais para
ser A MELHOR e ganhar o troféu do reconhecimento social e, quem sabe, de
quebra, ser convidada para posar na playboy.
Já ouvi dizer que
“assim caminha a humanidade”. Pois eu discordo. Eu digo que “assim caminhou a
desumanidade”.
Quando ainda estava
perdida no meio desse caminho-torto, lembro de sentir, lá no profundo (talvez
do meu útero), um desejo enorme de pertencer à um grupo de amigas – coisa que
nunca havia tido pois, sendo todas competidoras pelo mesmo prêmio, preferi
sempre me refugiar junto aos homens.
Pois que a Vida, que é
viva e acolhe os nossos desejos verdadeiros mais profundos, foi, aos poucos (e
na medida em que eu despertava do pesadelo do caminho-torto), me presenteando
com indivíduos desta espécie feminina, tão raras, tão lindas, tão belas, tão
únicas, tão inspiradoras, tão brilhantes, que partes até então adormecidas do
meu ser começaram a desabrochar por pura ressonância...
E, pouco a pouco, esse
clã feminino (sim, é muito mais que um grupo, é um clã) foi acontecendo e, como
é da nossa natureza feminina mais essencial, o acolhimento e a busca pela
beleza verdadeira, ele permanece sempre aberto às novas cores e aromas e
infinitudes humanas possíveis e impossíveis.
Então eu descobri...
Que a palavra AMIGA, segundo
minha própria teoria de pensamentos cá com meus botões, foi construída desta
forma, tão bem-pensadamente, pois carrega, na frente de TUDO, o AMor!
Que mulheres, para
serem saudáveis, precisam umas das outras para deitar no colo e chorar de dor...
e para cair no chão de tanto rir... rir, rir, rir... gargalhadas de bruxas
felizes, poderosas, unidas e, portanto, sãs!
Que mulheres, quando
se encontram verdadeiramente, desbloqueiam todos os entupimentos de alma com as
ferramentas do riso, da alegria, do acolhimento, dos beijos e abraços mágicos e
elevadores da alma!
Que, na matilha (matilha
sim, pois também somos lobas!), a força do feminino-de-milhões-de-face autoriza
que sejamos assim como somos, com todas as nossas belezas e todas as nossas
pequenezas, sem nada excluir.
Que ter a permissão de
ser tudo o que se é perante as outras é uma das coisas mais libertadoras e
deliciosas que existe!
Que ter alguém com
quem gargalhar de si mesma, das suas próprias mazelas, e ainda assim sentir-se
totalmente acolhida e confiante do respeito com o qual é tratada a sua própria
dor, é algo impagável e indispensável à saúde feminina!
Que, na matilha, somos
LINDAS por sermos do tamanho que somos – o tamanho do aqui e agora, não
importando a numeração da calça, o tamanho do sutiã, o peso da balança ou a
marcação na fita métrica...
Porque AMiga é mestra
na arte de adivinhar risos e lágrimas e, principalmente, mestras na arte de
extrair a flor da dor.
Porque AMiga derrete
as ânsias e alimenta os anseios por uma vida plena de alegria, plena de
humanidade e simplesmente feliz!
Isabela Crema 20/08/2012
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